Grávida de oito meses, a atendente de lanchonete Anaciana Alves de Santana, de 33 anos, se programava para se dirigir à maternidade na última quinta-feira (7), onde daria à luz a pequena Ana Letícia. No entanto, na noite do dia anterior, começou a sentir contrações. Sem tempo hábil para pedir ajuda, ela contou com a coragem e força de sua outra filha, Karina, de apenas 10 anos, que realizou o parto da mãe dentro de casa. Foi no pequeno cômodo, onde sala, cozinha e quarto se confundem, que a pequena Ana Letícia nasceu, há seis dias. O fato inusitado aconteceu na comunidade de Brasília Teimosa, Zona Sul do Recife.Karina é a segunda dos cinco filhos de Anaciana. Atualmente, ela está no 5º ano (antiga 4ª série) e sequer havia tido aulas sobre o corpo humano, ou imaginava como era realizado um parto. Mesmo nervosa diante da situação, a menina exitou em primeiro momento em realizar a missão que cumpriu minutos depois. Era por volta das 21h, quando Anaciana começou a sentir contrações. Como já conhecia as reações, a mulher não achou que pudesse ter chegado a hora do parto. Mesmo assim, resolveu se arrumar para procurar atendimento médico. Após tomar banho, Anaciana sentiu que as contrações estavam cada vez mais intensas e passou a cronometrá-las, com o apoio de um relógio.
Ao perceber que era chegada a hora, ela deitou-se na cama de baixo da beliche onde dorme, com sua outra filha, Júlia, de um ano, e pediu ajuda a Karina. “Liguei para a minha mãe, que mora aqui perto, mas achei que não ia dar tempo. Senti a pressão da criança querendo sair, deitei na cama e chamei minha filha”, contou Anaciana Alves de Santana. Em meio a tanto nervosismo, ela viu que a cabeça de Ana Letícia já estava saindo e pediu para que Karina seguisse suas orientações. Sem saber o que fazer, a menina correu, na tentativa de pedir ajuda aos vizinhos. Com a insistência da mãe, ela voltou minutos depois e decidiu trazer a irmã ao mundo. Na hora do parto, o marido da mãe de Anaciana chegou, mas ao avistar aquela cena, saiu correndo para também buscar ajuda.
Mas Karina já havia puxado a criança, quando uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou, por solicitação dos vizinhos. Ana Letícia nasceu com 44 centímetros, dois quilogramas e muita saúde. “Quando vi minha mãe pedindo ajuda, fiquei muito nervosa. Minha vontade era sair gritando e chamando todo mundo. A placenta estava grudada no rosto dela e ajudei retirando-a. Fiquei feliz porque salvei a vida da minha irmã”, contou a menina que, desde então, enche a mais nova parente de mimos. A mãe e o recém-nascido foram encaminhadas à maternidade, onde receberam os cuidados necessários, retornando à casa dois dias depois.
Anaciana, que está desempregada, sustenta os cinco filhos com uma pensão benefício do bolsa-família, totalizando uma renda de R$ 534. Destes, R$ 180 são destinados ao aluguel de uma pequena casa localizada na rua Francisco Valpassos. Diante de tal situação, ela também recebe ajuda do Conselho de Mulheres de Brasília Teimosa. Segundo a presidente do conselho, Elides Queiroz, a população se mobilizou e juntou uma quantia em dinheiro que será destinada a realizar a cirurgia de esterilização de Anaciana. O procedimento irá ocorrer na próxima quinta-feira.
Fonte: folhape
