Na área central de Nossa Senhora do Ó, distrito do município de Ipojuca, aos poucos, Marcelo Lira, um dos irmãos kombeiros inocentados da acusação de envolvimento na morte das adolescentes Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão, tenta retomar a vida. Pela casa, chamava a atenção o cheiro da galinha e do feijão preparados por ele, um dote adquirido durante o período de dois anos e oito meses que passou confinado no Cotel, em Abreu e Lima.
No presídio, Marcelo e seu irmão, Valfrido Lira, dividiram cela com outros dois homens. Mas eles não ficavam nos pavilhões comuns como a maioria dos presos. Os irmãos Lira ficaram no espaço que é chamado de Conjugal. O local é específico para os presidiários que trabalham para a própria unidade. Na prestação de serviços, eles recebiam 75% de um salário mínimo (R$ 451), sendo 25% direcionado para uma espécie de poupança e o restante era livre para gastos ou entregue à família.
Os irmãos kombeiros ficavam na cozinha. Além de cuidar das plantações cultivadas no terreno, também eram responsáveis por temperar e preparar a comida que era servida para os agentes penitenciários da Secretaria de Ressocialização (Seres). O período foi considerado como de aprendizado. “Era uma maneira de ocupar a nossa mente, não ficávamos o tempo todo pensando no que acontecia aqui fora, era uma maneira de seguir com vida”, destacou Marcelo.
Sentada e abraçada com o filho, a dona de casa Antônia Lira da Silva, 64, era só alegria. “Estou muito feliz por ter meus filhos de volta. Desde o começo, toda a família apoiou os dois e acreditamos que eles seriam inocentados”, afirmou. Apesar de não assistir ao julgamento, a mãe dos kombeiros chegava ao Fórum de Ipojuca logo no início da manhã e só ia embora quando terminava o procedimento.
A vitória dos homens foi considerada uma conquista divina. “Foi Deus. Ele sabia desde o começo da inocência dos meus filhos. Vivemos todo esse tempo em meio à dor e ao sofrimento, mas agora continuamos pedindo a Ele que esse tormento se afaste de nossa família”. No entanto, Marcelo afirmou estar preparado no caso de ocorrer um novo julgamento. “Estou pronto para responder qualquer pergunta”, afirmou.
A admiração para os irmãos Lira, tanto entre parentes como entre amigos, era visível. Não só no julgamento realizado no Fórum de Ipojuca semana passada, mas também agora, quando os kombeiros foram inocentados. Várias pessoas entravam e saíam da residência de Marcelo para cumprimentá-lo. “O que eu via é que as pessoas não ficaram contra a gente, todos perceberam que éramos dois pais de família presos injustamente”, complementou Marcelo.
No último sábado foram realizadas carreatas tanto em Nossa Senhora do Ó, onde vive Marcelo, como em Camela, onde vive Valfrido, que não pôde conversar com a reportagem da Folha. A informação repassada por uma de suas filhas era de que o kombeiro estaria muito cansado da noite anterior e que passaria o dia dormindo.
Fonte: Folhape
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